quinta-feira, 27 de maio de 2010

O MÉDICO PENSA QUE É DEUS. O JORNALISTA TEM CERTEZA!

(Madison Guy - Flickr Creative Commons)

"É feia a crise. Estou convencido de que donos de jornal e jornalistas compartilham o firme propósito de acabar com os jornais. Ou então são burros. Até admito que acabar com jornais não seja a real intenção deles. Quando nada porque os donos ficariam sem seus negócios e os jornalistas, sem seus empregos.
Mas parece terem firmado uma santa liança para acabar com os jornais, parece sim. Os donos porque administram mal as empresas; os jornalistas porque insistem com um modelo de jornal que desagrada às pessoas. Pensem um pouco na gravidade dos seguintes fatos:
- a receita de publicidade dos jornais em 2001 foi de 7,2% menor em termos reais que a do ano anterior. Nos Estados Unidos, a queda foi de 11,5%, a maior desde a "Grande Recessão" dos anos 30;
- os jornais venderam 0,46% a mais de exemplares em 2001 se comparado com 2000. Só que desde 1977 eles vinham crescendo a uma taxa média anual de 4,8%;
- nos últimos seis anos, o volume de dinheiro gasto com publicidade aumentou em 75% no Brasil. Mas a participação dos jornais no bolo publicitário caiu de 28% em 1995 para 21% em 2001;
- entre março de 2001 e março de 2001, os 15 maiores jornais brasileiros, responsáveis por 74% do volume total de exemplares vendidos no país, diminuíram sua circulação em 12%. Deixaram de vender exatos 346.376 exemplares. É como se uma edição inteira da Folha de S. Paulo tivesse deixado de circular." ( A arte de fazer um jornal diário - Ricardo Noblat).


A soberba é o grande mal do jornalismo. Jornalista acha que entende de tudo: de administração, de marketing, de finanças. Então, acontece o que está por aí, à vista de todos: empresas, empresários e profissionais atrelados ao passado glorioso. O tempo dos pioneiros já passou. Está na hora de passar o bastão da administração a profissionais competentes em sua especialidade e dos jornalistas se dedicarem ao seu métier.
Pretensos puristas advogam que jornal não é produto. Ora, tudo é produto. O que eles não querem admitir é que, se preservamos as características exigidas pelos consumidores de jornal, e aplicarmos modernas técnicas de mercadologia, se torna um produto rentável como qualquer outro. Para se ter um sucesso mercadológico não há a necessidade de se sacrificar a credibilidade, o faro jornalístico, o texto bem feito, a ética profissional!
Não adianta simplesmente tentar copiar novos modelos de midias que estão dando certo. Adotar o modelo televisivo como estão tentando alguns jornais. Ou embarcar na onda da internet com a mesma equipe. São linguagens diferentes e exigem especialistas.
Dois exemplos externos podem ser bons sinalizadores:
- Real Madrid, Barcelona, Athletic de Bilbao e Osasona são exemplos de clubes que profissionalizaram sua gestão com grande sucesso, mas mantiveram a personalidade pois tem mais de 250 mil sócios com direito a voto. E continuam a fazer um bom futebol;
- indústrias farmacêuticas de sucesso investem em pesquisa, desenvolvem bons produtos, disputam espaço nas prateleiras, fazem trabalho junto à classe médica, tem boa participação de mercado. Administradores fazem seu trabalho enquanto cientistas pesquisam.

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