quarta-feira, 22 de junho de 2011

A VELOCIDADE DO AVANÇO TECNOLÓGICO

(Foto E. Zhang)

INTRODUÇÃO

O processo evolucionário da tecnologia tem obedecido a um padrão exponencial. E a informática tem sido o fator preponderante na velocidade em que as transformações acontecem. Há 20 anos, a internet nem sequer existia em termos sociais. Hoje, quase um bilhão de pessoas estão conectadas, e as previsões são de que, em dez anos, deverão interligar metade da população mundial.
A cada instante somos bombardeados por novos lançamentos, de produtos ou serviços, que tornam obsoletos os que acabamos de adquirir.
A obsolescência atinge tecnologias que nem chegaram a ser absorvidas pelas massas. Isso se torna crítico, principalmente, em função da desigualdade social que impera em alguns pontos do planeta. A globalização exige que esses países se equiparem tecnologicamente aos mais avançados por questões de competitividade, enquanto a população não tem acesso, nem aos bens tecnológicos, nem ao conhecimento que permita tirar deles o melhor proveito.

A VELOCIDADE DAS INOVAÇÕES

"Os cálculos convencionais normalmente subestimam a intensidade das mudanças porque usam um raciocínio linear. E a tecnologia tem outro ritmo. Ela será o primeiro exemplo de um processo evolucionário marcado por um padrão exponencial." Ray Kurzweil - Veja Especial Tecnologia - 2006

A década de 50 é o marco inicial do crescimento exponencial, resultado dos investimentos em ciência e tecnologia em função da segunda guerra mundial. Nas décadas de 50 e 60, os Estados Unidos viveram uma época de ouro, com uma prosperidade jamais vista.
Com o mundo dividido entre capitalismo e socialismo, dá se início à corrida espacial nos anos 60, que tem como frutos: a informática, o computador, avanços nas telecomunicações e no transporte. A consequência foi o salto tecnológico nas décadas seguintes.
Se não pode ser alçado à condição da mais importante descoberta tecnológica, com certeza pode se inferir que o computador é responsável pelo maior salto tecnológico. Cada vez menor e mais rápido, realizando cálculos matemáticos complexos, em tempos cada vez mais exíguos, foi o principal propulsor de todas as inovações que vieram a seguir.
Fruto da Guerra Fria e a disputa tecnológica entre Rússia e Estados Unidos, surge a Arphanet em 1969. O sistema era usado para comunicação entre bases militares e foi o embrião da internet. Em 1971 seu uso foi liberado para uso em universidades e, quatro anos depois já existiam mais de 100 sites. A troca de informações e conhecimento acadêmico se alia ao avanço da indústria de microprocessadores e telecomunicações. Em 1986 surge o TCP/IP. Em 1994 surge o browser e o mercado recebe a maior revolução tecnológica da humanidade até então.
A revolução tecnológica iniciou-se Há milhares de anos. Os primeiros registros do ábaco, a primeira máquina de calcular, datam de 4.000 AC. Porém, nos últimos 60 anos, a velocidade com que novas tecnologias vem sendo desenvolvidas e colocadas no mercado atingiu uma velocidade vertiginosa.
E essas transformações acontecem em tempos cada vez menores, no espaço de uma mesma geração. Quem tem 50 anos já ouviu música em toca-discos de 78 rpm, proveniente de discos de goma laca, discos de vinil de 33 rpm, em gravadores de fita de rolo, em fitas cassete, em CD players, em computadores e mp3 players. No começo só podia ouvir música em casa, passou a ouvir música no automóvel e na rua.
E  o que se torna padrão no mercado nem sempre é o melhor formato. Haja visto que, formatos que proporcionavam melhor qualidade foram preteridos em função do poderio econômico de indústrias ou das preferências do público. Existem casos em que determinados produtos nem chegam ao conhecimento do grande público, se restringindo a aficcionados ou uso profissional, como é o caso do DAT (digital áudio tape).

OS EFEITOS NEGATIVOS

O excesso de informação

"Um usuário, ao efetuar uma pesquisa na internet, tende a ficar mais frustrado pelo excesso de 'respostas', que pela falta delas." Schons, Cláudio Henrique - O volume de informação na internet e sua desorganização: reflexões e perspectivas - UFSC

Um dos maiors problemas com os quais nos defrontamos na atualidade é a incapacidade humana de absorver a imensa quantidade de informação gerada pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Já em 2003, pesquisadores da Universidade da Califórnia mensuraram o conhecimento armazenado na internet e chegaram à cifra espantosa de 170 terabytes, ou seja, 17 vezes o acervo da maior biblioteca do mundo, a do Congresso Americano. E esse volume tem se multiplicado exponencialmente nos últimos oito anos.
Paradoxalmente, o efeito do excesso de informação seria a desinformação, o que o filósofo e arquiteto francês Paul Virilio denomina de 'ameaça de cegueira' provocada por um descontrole de 'nossa relação com o real'.
Com o surgimento das redes sociais também perdeu-se a noção geográfica de distancia ou fronteira, pois esses conceitos não estão mais relacionados a espaços geográficos.

O jornalismo e a velocidade da informação

Os efeitos perversos da velocidade e excesso de informação acabaram recaindo sobre quem a produz. No artigo McDonaldização do jornalismo: o discurso da velocidade, Thais de Mendonça Jorge da Universidade de Brasília, a respeito dos efeitos da chamada 'ditadura da velocidade' na produção jornalística, constatou em suas pesquisas que, com poucos recursos e muito trabalho, os jornalistas não tem tempo de apurar, nem de conferir as notícias que recebem das agencias. O resultado é a pasteurização da notícia com textos praticamente idênticos em diferentes órgãos da imprensa. Sem tempo para checagem outra consequência inevitável é a replicação de erros.

A economia globalizada

As notícias econômicas também viajam na mesma velocidade. Em 1982 o México enfrentou uma grande crise financeira, mas os efeitos só se fizeram sentir no Brasil por volta der 1987. A queda da Bolsa de Valores de Pequim, em outubro foi refletida nas bolsas de todo o mundo no mesmo dia útil.
A concorrência também se acirrou como consequência da oferta de informações. Um executivo japonês consegue saber hábitos e costumes de um cidadão baiano em questão de minutos, reduzindo assim o impacto econômico da distância, alargando as possibilidades de concorrência.

O acesso aos bens tecnológicos

O acesso a bens e tecnologias não está disponível a todos, em todos os lugares, provocando assim uma disparidade entre a necessidade de se estar tecnologicamente apto e não ter acesso a elas.

"Em tempos atuais, acentuam-se fortemente as diferenças. Cada vez mais, o conhecimento, capaz de gerar competências (genéricas e especializadas) divide o mundo em duas partes: os que se tornam habilitados a enfrentar novas realidades e aqueles que perdem o tempo da transformação. Por mais injusto que possa parecer, por mais cruel que seja, o fato se apresenta como uma realidade imposta: prosperam aqueles que dialogam com o conhecimento." Alvarez, Carlos Mario - Labore - Laboratório de Estudos Comtemporâneos - Revista Eletrônica - Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

As previsões da empresa de pesquisa Jupiter Research são de que, em 2011, apenas um quinto da população mundial estará conectada na internet. A grande maioria estará nos países ricos e nas camadas mais privilegiadas da população, o que evidencia o abismo social mundial, que também se reproduz no mundo digital.
Estar fora do ambiente virtual em uma sociedade digital equivale a estar privado do exercício da cidadania, o que o economista italiano Ricardo Petrella da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, define como Techno-apartheid.

TIC e pós-modernismo

Diversas facetas das TIC foram responsáveis pela disseminação dos pós-modernismo em nossa sociedade, principalmente nos grandes centros urbanos.
O caráter policultural, a multiplicidade e a hiperinformação são frutos do progresso das comunicações, da eliminação das fronteiras geográficas e das distancias e do conteúdo disponível na internet.
Os meios de processos disponíveis no campo da informática contribuiram de maneira substancial para a estética pós-moderna de arte, onde já não é preciso inovar nem ser original, e a repetição de formas passadas é não apenas tolerada como encorajada.
No campo do comportamento provocou o desmoronamento de crenças e valores: tudo deve por que pode. Houve a derrocada do prazer pelo dever. Deve se vender uma imagem de sucesso e felicidade. As pessoas se sentem no dever de trepar toda noite porque todos parecem fazê-lo. Devem curtir adoidado, ainda que não sintam o menor prazer no ato. Gasta-se o dinheiro que não tem, usa-se o celular sem motivo concreto, escreve-se mil artigos acadêmicos, participa-se de todas as redes sociais, interage-se com todos ao mesmo tempo, enfim fazemos o que superego pós-moderno determina.

A nova demografia

O começo do milênio será um marco na história da humanidade: pela primeira vez a população urbana global será maior que a rural, além disso estamos no auge do crescimento populacional, que aumenta em cerca de 75 milhões de pessoas por ano. Mesmo com o decréscimo da taxa de crescimento já somos 6,5 bilhões de habitantes e, mesmo uma taxa menor, representa o maior acréscimo em números absolutos já registrados. Este crescimento está intimamente ligado ao papel cada vez mais central da tecnologia nas sociedades modernas, visto que é decorrente dos avanços técnicos, científicos, médicos, de saúde pública e nutrição.
Dentre os dez países mais populosos do planeta, oito tem graves problemas de distribuição de renda.
Num cenário em que os países ricos já alcançaram a hegemonia no comércio internacional e dominam as formas de conhecimento, será muito difícil que países como a Etiópia encontrem um modelo de desenvolvimento sustentável, capaz de oferecer condições dignas de vida para 170 milhões de habitantes.

CONCLUSÃO

A velocidade do avanço tecnológico está aqui para ficar. Não se trata de uma fase de transição. A transitoriedade será a constante daqui para a frente. A população estará sempre um passo atrás da evolução que, cada vez mais acontecerá em períodos menores.
Tanto maior será esse descompasso quanto mais pobre for o indivíduo ou a nação. E quanto maior o descompasso maior será a dificuldade em conseguir um emprego ou competir com outras nações. Ou seja, o fosso da desigualdade social tende a aumentar em decorrência do avanço.
Se as previsões se concretizarem, em 2020, metade da população mundial estará conectada à internet. Isso significa que teremos mais de três bilhões de párias digitais, privados do acesso ao conhecimento capaz de gerar competências.
Está havendo uma horizontalização do conhecimento. E grande parte do conteúdo que circula na internet foi provida pelas gerações analógicas. Com a substituição das velhas gerações pelas mais novas, num ciclo contínuo, haverá a exacerbação do conhecimento superficial, na medida em que haverá cada vez menos gente capacitada a prover conteúdo profundo nas redes.
Com a tecnologia aumentando cada vez mais a produtividade nos países ricos, propiciando maior tempo livre para seus cidadãos, separados por muros virtuais das populações carentes, estamos no limiar de um Admirável Mundo Novo. Ou, quem sabe, de um pesadelo Matrix.


Trabalho de conclusão de semestre da cadeira de Teoria da Comunicação, do curso de Comunicação Social - Jornalismo, apresentado em junho de 2011.




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