quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O SANTO GRAAL DO JORNALISMO

                                         


O valor mais prezado pelo jornalismo de uma maneira geral é, sem sombra de dúvida, a verdade. Apregoada aos quatro cantos, serve até de mote para algumas publicações, que se auto-intitulam isentas e imparciais.

Mas, sob um olhar mais apurado, sempre fica evidente a inclinação, ou do veículo, ou do profissional, sôbre determinadas questões. Naturalmente, a procura da isenção é sempre louvável, senão imprescindível.

Na barafunda em que se encontra a imprensa atual, acuada de um lado pelo "políticamente correto", e de outro lado pela insegurança gerada pelas ações judiciais cada vez mais frequentes e onerosas, as notícias passam ao largo do que se entende por verdade. Isso, sem levarmos em conta que, as influências mercadológicas e de caráter pessoal/cognitivo sempre se interpõe no material publicado.

Acrescente-se a esse cenário a confusão semântica e filosófica sobre esta delicada questão. O que é a verdade? É possível a verdade? Em que circunstancias ela é possível?

Diversas escolas filosóficas se debruçaram sobre a questão e, óbviamente, não se chega a um consenso. Em seu trabalho mais conhecido, A Crítica da Razão Pura, Kant afirma que a razão humana é impotente para conhecer o fundo das coisas. Tudo o que vemos ou conhecemos, ou seja os fenômenos, é captado pelos nosso sentidos, sendo portanto afetado pelo nosso universo cognitivo.

No Discurso sobre o Método, Descartes se foca na ciência. Seu objetivo era estabelecer um método universal, com rigor matemático e, através de cadeias de razão, se chegar a verdade. Todavia, nas Meditações, Descartes diz: "Duvidemos dos sentidos, uma vez que eles frequentemente nos enganam, pois nunca tenho certeza de estar sonhando ou de estar desperto". Donde se conclui que o que é provado científicamente é verdade, mas o demais assuntos são passíveis de crítica.

Com o advento da fotografia, chegou-se a pensar que, como ela reproduzia exatamente o objeto, a verdade seria possível. Mas, a prática mostrou que não era bem assim. O fotógrafo sempre interfere na imagem. Seja ao editar a foto no momento do clique, seja pelo seu "olhar", carregado de experiências e conhecimentos passados.

Nesse momento, em que vivemos um período de transição, com um verdadeiro tsunami de informações, que nos bombardeiam incessantemente, devemos nos focar na ética. Pessoal e, por conseguinte, profissional. Sem a ingenuidade de querer lutar contra o sistema ou contra a própria formação, mas com um posicionamento inquestionável perante as nossas convicções.

Idealismo à parte, há que se convir que um profissional que não obedeça aos sinais de trânsito, quando tem que chegar na redação antes do fechamento; que omite ou frauda o imposto de renda; que "colou" para obter o diploma; nunca deveria escrever sobre corrupção.

A procura da verdade nunca deverá ser abandonada. A isenção deverá ser sempre um objetivo do bom jornalista. Sómente com um comportamento ético irrepreensível será possível um jornalismo de que nos orgulhemos.

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