sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O QUE MUDAM SÃO AS MOSCAS!

Esta semana, a Universidade Santa Cecília - Unisanta promoveu a 12a. Semana Ceciliana de Arte e Comunicação. As oficinas e palestras se destinaram aos alunos dos cursos de jornalismo, multimídia e propaganda e publicidade.

As palestras, de profissionais das diversas áreas de atuação do jornalismo, tiveram como principal tônica o jornalista multimídia. Trocando em miúdos: o profissional tem que saber fazer de tudo e, ainda por cima, receber uma salário de fome, salvo honrosas exceções.

Me espanta o fato de que esse peixe tem sido vendido à classe de uma maneira tão eficaz, pelos detendores dos veículos, que os próprios jornalistas não se apercebem da manipulação a que estão sendo submetidos. A ponto de revenderem o peixe como se ele fosse bom para a classe.

Ora, todos temos obrigações e contas a pagar e, portanto, rebelar-se talvez não seja o caso. Porém dourar a pílula também não o é.

Como temos memória curta, nos esquecemos que este mesmo peixe já nos foi vendido no passado, só que sob outro nome. Antigamente o termo era polivalente.

Aliás, esse termo (multimídia) eu, particularmente, considero uma bobagem em todos os sentidos. Em primeiro lugar até os animais são multimídia: cães rosnam e urinam para demarcar território, aves se utilizam do canto e da dança para acasalar, e vai por aí afora. Em segundo lugar, tirando uns poucos gênios de plantão, o resto não consegue fazer todas as coisas muito bem. Isso, se conseguir fazer uma coisa muito bem. Porque, a bem da verdade, especializações decorrem da facilidade que temos de fazer uma coisa melhor que as outras. Ou, como diz a minha vizinha:- Cada um no seu quadrado!

Os profissionais de jornalismo digital estão se arrogando uma importância que na verdade não tem. É óbvio que temos que investir nessa mídia e torná-la rentável.Entretanto, todos nós temos conhecimento do percentual da população que tem acesso à internet. Em contrapartida, as pesquisas de consumo realizadas indicam que, atualmente, as classes C e D são o grande público alvo de quem quer escala comercial.

Outra questão que se apresenta é a qualificação dos acessos ao jornalismo digital: o que essas pessoas estão lendo? E até que ponto, justamente em função do conteúdo acessado, o meio é formador de opinião? O que eu vejo e ouço na classe é alarmante: estudantes de jornalismo que só acessam a internet para entrar em sites pornográficos, colunas de fofocas, saber o que as celebridades estão fazendo, etc.. E, teóricamente, estamos falando do créme de la créme. De pessoas que podem pagar perto de dois salários mínimos só para estudar. Imagine-se então o restante da população.

Estamos passando por um momento sui generis, em que existem pessoas que nem passaram pelo analógico, pularam etapas e aterrisaram no digital.Já vi pessoas em lan houses que simplesmente não sabiam ler e escrever! E como é moda, vão aos magazines e compram computadores a prestação. A Casas Bahia, do grupo Pão de Açucar, é um dos maiores vendedores de informática do Brasil. Qual o conteúdo acessado por esse público? Outro dado importante é que posse não significa acesso: segundo dados recentes, existem mais de 1milhão e 800 mil pessoas com um pc em casa sem conexão de banda larga.

Outra coisa alardeada aos quatro ventos é o impacto dessa tecnologia em nossas vidas e profissões. Se pararmos para pensar, chegaremos à conclusão que mudanças sempre houveram e a humanidade sobreviveu a todas elas. E o impacto das transformações, a meu modo de ver não é maior que a invenção da roda ou a revolução industrial. Alguns profissionais estão simplesmente fazendo o que sempre se fez: tentando assombrar o interlocutor, mostrando o fogo a quem não o conhece!

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