Tem horas que eu fico de saco cheio com a pose de "amante dos animais" que os donos de pet assumem. Alguns deles são ferrenhos defensores de baleias, micos-leão, e que tais. Mas uma análise um pouco mais profunda das atitudes desses bonzinhos de carteirinha põe abaixo qualquer discurso.
Ninguém me convence que cortar orelhas ou rabo de animais não seja mutilação. Que eu saiba a mãe natureza tem razões funcionais para esses apêndices. E a justificativa estética é no mínimo discutível.
Prender passarinho em gaiola, ou cortar asa de papagaio para não voar também não me parece muito legal. E não adianta dizer que cacatua pode ser comercializado porque o Ibama permite. Acontece a mesma coisa com os peixes e aves que são contrabandeados de nosso país para a Europa ou Ásia: lá a venda não é controlada ou proibida. Afinal de contas o problema é nosso.
Eu moro em apartamento e, ao lado do meu, tem uma vizinha que mora em uma quitinete com dois filhos, dois gatos, um cão, algumas gaiolas com pássaros e uma tartaruga. Além do cheiro, as vezes, ficar insuportável, eu fico imaginando as condições de vida dos pobres animais*. Tartaruga que eu saiba precisa de terra. Cães precisa de um espaço mínimo para se exercitar. Pássaros foram feito para voar. Gatos, confesso que não sei para que foram feitos, mas acho que não para ficarem confinados em alguns poucos metros quadrados.
Será que essas pessoas que gostam tanto dos animais não pensam no bem estar deles? Como será que um São Bernardo enfrenta o calor do verão de Santos? E as raças, que por uma infeliz manipulação genética por parte dos adoradores de animais, sofrem de doenças congênitas e, mesmo assim, continuam sendo replicados porque são uma "gracinha"?
Não me venham argumentar que tem no pet-shop para vender exatamente dessa maneira. Vale aqui o mesmo raciocínio das drogas ou receptação de mercadoria roubada: só tem para vender por que tem quem compre.
Quase sempre que o tempo permite eu dou uma caminhada na praia. E, invariávelmente, me deparo com duas coisas: cães na areia e cães de raças agressivas sem focinheira. Ora, quem é que não sabe que urina e fezes de cachorro transmitem algumas doenças para seres humanos? Ou que que cães, como todos os animais, podem ter reações inesperadas de agressividade? E no caso dos cães na areia tem uma agravante pois eles também podem se contaminar.
Também tem a história do cara se entusiasmar no pet-shop, comprar o cachorrinho bonitinho para o filhinho e, depois de algumas semanas, se dá conta de que ter cão dá trabalho e custa caro. Daí abandona o coitado na rua. Aqui na orla tem vários abandonados e simplesmente ignorados pelas autoridades que não os recolhem. Acho que a solução para o problema seria a criação de um certificado de propriedade sem a qual a venda não poderia ser feita, com a cobrança de uma taxa que seria revertida para um fundo destinado ao recolhimento e manutenção desses animais. Todos os animais teriam um chip implantado com os dados do animal e proprietário. Em caso de abandono o proprietário pagaria uma pesada multa. Quanto aos cães agressivos o título de propriedade seria o equivalente a porte de arma ou de veículo: o dono responderia legalmente pelo animal.
Outra coisa que me incomoda muito é essa praga de rodeio. Por que será que eu nunca vi alguém ou alguma entidade se pronunciar contra essa selvageria? Ou será que ninguém acha que apertar os bagos dos pobres animais, para deleite da galera, seja crueldade?
Então, se não fazem nada para melhorar, pelo menos parem de posar de mocinhos, por que está mais do que claro que há um componente indisfarçável de egoísmo nessa relação.
* Quanto às pessoas, acho que uma piada define bem a situação:
O cara encontra o amigo passeando com o dogue alemão.
- E aí, João! Belo cachorro, hein! Onde você está morando agora?
- Ora, no mesmo lugar.
- Naquela quitinete? E onde fica o cachorro?
- Junto com as crianças, ué!
- Mas não é muito apertado?
- O cachorro não liga!
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