quinta-feira, 7 de outubro de 2010

QUANDO FOMOS CORAJOSOS...

Nesses tempos bicudos,onde por uma lamentável acomodação ao políticamente correto e falta de ousadia, o jornalismo passa por uma crise tanto de ética, como de conteúdo, não custa nada lembrar de coisas das quais nos orgulhamos no passado.

Embora também esteja trilhando o mesmo caminho dos outros veículos, salvo honrosas exceções (como o claro posicionamento editorial a favor de Serra), o jornal O Estado de S. Paulo, em setembro de 1972, através de seu diretor Ruy Mesquita, deu mostras do que deve ser o posicionamento da imprensa perante a censura.

A Policia Federal enviou o aviso abaixo ao jornal:

"Da ordem do senhor ministro da Justiça, fica expressamente proibida a publicação de: notícias,comentários, entrevistas ou critérios de qualquer natureza, abertura política ou democratização ou assuntos correlatos, anistia a cassados ou revisão de seus processos, críticas, comentários ou editoriais desfavoráveis sobre a situação econômico-financeira; ou problema sucessório e suasimplicações. As ordens acima transmitidas atingem quaisquer pessoas, inclusive se já foram ministros de Estado ou ocuparam altas funções ou posições em quaisquer atividades públicas.
Fica igualmente proibida pelo senhor ministro da Justiça a entrevista de Roberto Campos."

Segue abaixo a carta enviada, no mesmo dia ao ministro da Justiça, Alfredo Buzaid:

Ao tomar conhecimento dessas ordens emanadas de V.S. o meu sentimento foi de profunda humilhação e vergonha. Senti vergonha, senhor ministro, pelo Brasil, degradado à condição de uma republiqueta de banana ou de um Uganda qualquer por um governo que acaba de perder a compostura.

Parece incrível que os que decretam hoje o ostracismo forçado dos próprios companheiros de revolução que ocuparam ontem cargos em que se encontram hoje não cogitem cinco minutos do julgamento da história. O senhor, senhor ministro, deixará de sê-lo um dia. Todos que
estão no poder dele baixarão um dia e então, senhor ministro, como aconteceu na Alemanha de
Hitler, na Itália de Mussolini, ou na Rússia de Stálin, o Brasil ficará sabendo a verdadeira histó-ria desse período em que a revolução de 64 abandonou os rumos traçados pelo seu maior líder,o marechal Castello Branco, para enveredar pelos rumos do caudilhismo militar que já está forade moda, inclusive nas repúblicas hispano-americanas.

Cheio de vergonha por ver meu país degradado a esta condição, subscrevo-me humilhado

Ruy Mesquita
Diretor do Jornal da Tarde e de O Estado de S. Paulo

Cópias ao ministro Leitão de Abreu
Cópias aos líderes da Arena e MDB na Câmara e no Senado
São Paulo, 19 de setembro de 1972"

Serve também de alerta, nesse momento em que estamos em vias de eleger a candidata de um presidente que já deu mostras de querer exercer censura nos meios de comunicação.

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